sexta-feira, 10 de julho de 2009

VOCÊ ENGOLE BORBOLETAS EU TENHO O SOL NA BARRIGA - BRUNA LOMBARDI

Você engole borboletas eu tenho
o sol na barriga
Você sempre anda de óculos eu
leio coisas antigas.

Você vara a noite eu desenho
cata-ventos
Você gosta de ficção eu tenho
outros inventos.

Você anda desligado e eu busco
perspectivas
Você me conta seus sonhos e me
ri e me cativa.

Eu tenho medo da noite
Você ama a solidão o meu amor se
reflete nas pupilas dos olhos de um cão.

Você teoriza a matéria e eu adoro
hidrantes
Você quer a liberdade e eu só vivo
o instante.

A gente faz uma viagem e vê
estrelas cadentes e eu sonho um
mar onde nado e me afundo contra a corrente.

Você geme e se revolta e eu penso
no seu beijo e enquanto você
conversa me dói no corpo o desejo.

Me arde no corpo o desejo eu me
espreguiço e me espicho e me
chego e te provoco meio anjo
meio bicho.

Você me conta um segredo eu te
mostro um encanto enquanto você
toca flauta desafinada eu canto.

Você absorve a paisagem eu
procuro a maravilha
Você deixa alguns vestígios e eu
vou seguindo a trilha.

Você fala em liberdade e eu me
prendo no seu traço você é
abstrato divaga eu te olho e te
embaraço.

Ando na rua devagar
Você corre na avenida
Você tem melancolia eu tenho
medo da vida.

Você fala ao telefone cercado de
seus amigos eu passo os dias muito
só e só entendo depois que digo.

De repente vem o encontro sem
que a gente entenda o nexo eu te
vejo e me compreendo e me vejo
em teu reflexo.

Eu te transmito fluidos de uma
forte ligação e recebo uma
corrente quando pego na tua mão.

Você tem um magnetismo eu sou
dotada à magia nossas auras se
atraem por uma questão de energia.

Você cospe margaridas tem o
mundo nas entranhas eu fico horas
olhando o orvalho na teia de aranha.

E a gente se precisa como a um
aditivo numa coisa estranha a nós
sem razão e sem motivo.

São coisas transcendentais é inútil
que eu lhe diga
Você engole borboletas eu tenho
o sol na barriga.


Eu simplesmente amo esse poema desde a minha adolescência.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    1. Estou lendo isso agora. Mas li esse poema em 1981 na baixada santista pra nunca mais me esquecer. Sdds.

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